Você já assistiu ao filme “Bacurau” de 2019? Se ainda não, pode se preparar para uma experiência cinematográfica marcante e surpreendente. Se já, pode se preparar para reassistir com outros olhos depois de ler esse artigo.
“Bacurau” é um filme que não se encaixa em nenhum gênero ou rótulo. É um filme que mistura drama, faroeste, terror gore, fantasia e ficção científica. É um filme que retrata uma realidade brasileira, mas também cria uma realidade paralela. “Bacurau” nos faz pensar, sentir e questionar.
Para mim, “Bacurau” é um teste para nossos preconceitos vivendo em sociedade, e isso se acontece tanto no enredo do filme, com os personagens estrangeiros, como na nossa percepção como espectadores.
Neste artigo, vamos analisar como o filme faz isso e qual é a mensagem que ele nos passa.
A sinopse de Bacurau
Bacurau é um filme franco-brasileiro de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, premiado no Festival de Cannes de 2019. O filme se passa em um futuro próximo, em uma pequena cidade no sertão de Pernambuco que é atacada por turistas estrangeiros que querem matar seus habitantes por diversão. A comunidade, que é diversa e solidária, reage à invasão com criatividade e resistência.
O preconceito dos estrangeiros
Um dos aspectos mais interessantes do filme é a forma como ele retrata os estrangeiros que invadem Bacurau. Trata-se de um grupo de turistas americanos e europeus que pagam para participar de uma caçada humana, organizada por um alemão chamado Michael (Udo Kier). Eles se consideram superiores aos habitantes de Bacurau, sempre se referindo a eles com apelidos depreciativos. Eles não têm nenhum respeito pela cultura, pela história ou pela vida dos locais. Querem apenas se divertir matando pessoas inocentes.
O filme mostra como esse preconceito é fruto de uma visão colonialista e racista, que desumaniza os povos considerados “atrasados” ou “selvagens”. Os estrangeiros não sabem nada sobre Bacurau, nem mesmo onde fica no mapa. Eles só sabem que é um lugar pobre e isolado, onde ninguém vai sentir falta dos mortos. Eles não têm ideia da força e da resistência dos moradores, que têm uma história de luta e de união.
O filme também mostra como esse preconceito é alimentado por uma mídia manipuladora e corrupta, que esconde a verdade sobre o que está acontecendo em Bacurau. O prefeito da cidade, Tony Jr. (Thardelly Lima), é um político oportunista e sem escrúpulos, que vende Bacurau para os estrangeiros em troca de dinheiro e favores. Ele corta a água, permite cortar o sinal de internet e não faz nada para melhorar o acesso à cidade, deixando os moradores à mercê dos invasores. Ele também usa a sua influência para impedir que a imprensa divulgue o massacre, fazendo com que Bacurau desapareça do mapa literalmente.
O preconceito do espectador?
Outro aspecto que torna Bacurau um filme surpreendente é a forma como ele subverte as expectativas do espectador. O filme começa como um drama social, mostrando a realidade de uma comunidade rural que sofre com a falta de recursos e de políticas públicas. O filme apresenta os personagens principais, como Teresa (Bárbara Colen), que chega com o carregamento de vacinas no início do filme; Domingas (Sônia Braga), a médica alcoólatra; Pacote (Thomas Aquino), o assassino de aluguel; Lunga (Silvero Pereira), o líder rebelde que vive escondido pelas redondezas; entre outros. No início do filme, temos o enterro de Dona Carmelita (Lia de Itamaracá), a matriarca da cidade, que representa a memória e a tradição do lugar.
Conforme o filme avança, ele vai mudando de gênero e de tom. O filme passa a incorporar elementos de ficção científica, como os drones que sobrevoam a cidade, e de terror gore, como as cenas de violência explícita e de sangue. O filme também passa a ter um ritmo mais acelerado e uma trilha sonora mais intensa. O filme se transforma em um faroeste, em que os moradores de Bacurau se armam para enfrentar os estrangeiros em um duelo final.
Essa mudança de gênero e de tom pode causar estranhamento e desconforto no espectador, que não estava preparado para ver um filme tão diferente do que esperava depois dos 50 minutos. Ou seja, o filme testa o nosso preconceito como espectador, que tende a rotular e a categorizar os filmes em gêneros pré-definidos. O filme nos desafia a aceitar uma narrativa que não segue as convenções e as regras do cinema comercial. O filme nos convida a ampliar o nosso olhar e a nossa percepção sobre o cinema brasileiro, que, sim, é capaz de produzir obras originais e inovadoras.
A mensagem do filme: Sentido de Bacurau Explicado!
“Bacurau” é um filme que testa os nossos preconceitos como sociedade e como espectador, mas também é um filme que nos passa uma mensagem de esperança e de resistência, mostrando como os moradores de Bacurau são capazes de se defender dos estrangeiros, usando a sua inteligência, a sua criatividade e a sua coragem. Eles se organizam coletivamente, sem depender de líderes ou de autoridades, e valorizam a sua cultura, a sua história e a sua identidade.
O filme também mostra como os moradores de Bacurau são diversos e inclusivos, aceitando as diferenças entre eles. Eles convivem harmoniosamente com pessoas de diferentes origens, cores, orientações sexuais, profissões e crenças, e são solidários e generosos uns com os outros, compartilhando o que têm e ajudando quem precisa.
Bacurau é um filme que nos faz refletir sobre o Brasil que somos e o Brasil que queremos ser. É um filme que nos faz questionar o nosso papel como cidadãos. É um filme que nos faz celebrar o nosso cinema e a nossa cultura. É um filme que nos faz sentir orgulho de ser brasileiro.
Trailer de Bacurau (2019)
Onde Assistir Bacurau (2019)?
Bacurau está disponível para assistir no GloboPlay.
Isso é muito Black Mirror!
Se você é um dos muitos que pensou “isso é muito Black Mirror“, acertou em cheio. O longa tem inspiração de séries originais e modernas como Black Mirror. O mais legal de tudo, é que a semelhança mora na originalidade de ambos! Se você gosta de ficção científica, fizemos uma lista especial para você aqui!